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quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Mundo Empresarial -  Oportunidades e competências e exigências do factor RH

Key Word´s – Competências, Dinamismo, Geração Qualificada, Oportunidades, Revolução

Boas caros amigos (as) empresários (as),


Estou de volta com mais um artigo de opinião e mais um conjunto de ideias. Desta vez fora de  Portugal, sim isso mesmo fora do país que me educou, tudo me deu e ensinou, mas calma, não será por muito tempo. O tema que vou abordar surgiu-me por essa razão. As exigências e as competências necessárias no contexto actual e futuro no mundo empresarial (só? E os outros?). 

Sou "produto" da sociedade moderna portuguesa, da GERAÇÃO QUALIFICADA,  sim daqueles que sonhou que tudo iria correr bem e tudo seria de forma mais ao menos “fácil” atingível. Enganei me, melhor acordei a tempo de perceber que algo de muito radical iria acontecer, estaríamos nós algures em 2008, estamos quase em 2014 e o cenário é o conhecido.
Para que não fiquem dúvidas, esclareço que não me vejo como exemplo para quem quer que seja e assumo que sou uma pessoa de sorte. Sorte com as empresas com quem trabalhei e trabalho, sorte com as pessoas com quem trabalho e mais sorte ainda com os desafios que me são colocados e que muito me têm feito aprender, de que maneira. Saliento ainda o meu mais profundo respeito por todos os meus colegas, pela minha geração, pelos seus pais que muito trabalharam e abdicaram, sonhando com um futuro melhor para os seus filhos, por fim saliente-se que não sou nem quero ser advogado de ninguém.
Tive a oportunidade de me deslocar pela primeira vez a um dos “oásis” de oportunidades do contexto empresarial actual, Angola. E a ideia de escrever este artigo partiu desta mesma oportunidade, de tudo o que tinha ouvido e principalmente de tudo que por aqui tenho visto.
O contexto empresarial mundial, mas principalmente aquele que se vive em Portugal já o disse em artigos anteriores é de “revolução”, se me permitem o termo, que bem sei ser forte. Ora por conseguinte, todos aqueles que se inserem nesse contexto tem duas hipóteses: 
  • Ou acompanham a revolução, (re) capacitando-se, adquirindo competências e factores competitivos ou simplesmente
  • Deixa-se andar, esperando um qualquer milagre (emprego fixo bem remunerado e sem grande exigência).
Honestamente eu não acredito muito na 2.ª opção. Quanto mais aprendo, quanto mais empresas conheço, quanto mais empresas analiso, quanto mais realidades conheço mais certeza tenho disso. Assim sendo resta-nos, geração qualificada,  arregaçar as mangas e dotarmo-nos de armas suficientes para ultrapassar os desafios que nos vão surgindo.
As empresas e as pessoas estão hoje todos no mesmo barco. Barco esse que em muitos casos está a meter água, ou está com dificuldades em navegar e em encontrar novos caminhos. É necessário encontrar soluções para arranjar o barco, encontrar novas rotas e remar até porto seguro, se me permitem a comparação. O barco (empresas) enfrentam tempestades, desafios, têm alguns buracos e o (s) desafios são enormes para levar o barco a bom porto. É preciso ajudar a concertar, (re) orientar o barco e fundamentalmente encontrar novas rotas.
Não é fácil sair do nosso país e do conforto dos nossos, não é fácil trabalhar horas extra sem nada receber, não é fácil trabalhar semanas e fins de semana, não é fácil estudar, qualificar-se adquirindo competências e receber salários pouco condizentes e dignos com o esforço despendido, não é fácil trabalhar ou ter que ir trabalhar para áreas que não são as dos nossos sonhos, mas principalmente é desolador não ter trabalho. Esta é a realidade, mas é também o ponto de partida para mudarmos e procurarmos SOLUÇÕES. Não é fácil é certo, mas é possível, e uns e outros, mais cedo ou mais tarde, vão perceber a necessidade de (re)aprender, sejam empresários, sejam colaboradores. O desconhecido traz receio, faz pensar se vale a pena correr riscos. Vim visitar Luanda e visitar empresas Angolanas, sim só empresas Angolanas e não só grandes empresas, mas principalmente pequenas empresas. Confesso que a ansiedade era (já não é) mais que muita. Afinal o que iria encontrar eu? A única coisa que sabia e que tinha era uma oportunidade única e que queria, precisava aprender e saber o que se faz e como se faz por aqui. Tenho trabalhado com algumas empresas Angolanas em Portugal e nesse sentido a oportunidade era única, os ganhos? Bem não vale a pena falar disso, a maior riqueza é sem qualquer sombra de dúvida a aprendizagem e as competências que estou a adquirir, e, acreditem que estou a adquirir a uma velocidade vertiginosa. Para o efeito assumi me como se de uma empresa se trata-se, questões logísticas, legais, empresariais etc. O impacto inicial não foi o melhor e nesse momento uma questão se colocou, ou rapidamente me adaptava ao ambiente, pessoas, cidade, empresas ou então....
Quando comecei a visitar as empresas, confesso que fiquei sem palavras. Empresas pequenas onde tudo é potencial, mas também onde tudo é necessário pensar como empresa, é ai que está a oportunidade. Não fui a Silicon Valley ver os melhores exemplos, talvez um dia vá, quero muito ir, mas acreditem que muito estou a aprender de como e o que fazer e o que nunca fazer nas empresas. Aqui o meu maior desafio é mesmo encontrar soluções com recursos (financeiros, humanos, teconlógicos) escassos, na verdadeira acepção da palavra.
Quanto mais empresas conheço, mais desafios (não problemas) encontro. Não tenho sorte de conhecer empresas perfeitas e ainda bem que assim é. Mais soluções me solicitam, seja na área Financeira, Operacional, Contabilística, RH, Logística, Internacionalização, Stock´s etc, mas também mais oportunidades e barreiras ultrapasso e por conseguinte mais competente e mais capacitado para desenvolver o meu trabalho fico. Se quero ser bem sucedido tenho ainda muitos barcos para ajudar a arranjar, (re) orientar, ultrapassar tempestades e levar a bom porto, caso contrário também eu me vou afogar.
Por tudo isto eu sou um profissional muito feliz e cheio de sorte.

P.S. Um agradecimento especial aos empresários angolanos com quem tenho tido o prazer de aprender e talvez ensinar algo e que tudo fizeram e fazem para me deixar à vontade.


Bons negócios e até breve! 

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Agricultura – Uma moda passageira ou uma janela de oportunidade?


Key Word´s – Agricultura, Investimento, Incentivos e Futuro.

Caros amigos (as) empresários (as),

Depois de uma prolongada ausência estou de volta. Obviamente não estive parado. Felizmente a minha vida profissional tem sido preenchida e cheia de desafios.

O artigo sobre o qual me vou debruçar é um dos maiores desafios, mas também uma das maiores oportunidades, que se colocam aos agentes económicos e à sociedade portuguesa atual e futura. Setor Agrícola!
Procuram-se hoje agulhas no meio de um palheiro. Procuram-se soluções, milagrosas, que nos tirem de um estado de asfixia total no qual todos mergulhamos. É neste contexto que está também inserido o sector agrícola e, é nesse sentido que é visto como um autêntico oásis no meio do deserto (se é que me fiz entender).
Fruto do trabalho que tenho realizado neste setor, de norte a sul do país, através da formação e consultoria em empresas a potenciais e a empresários agrícolas, e do que simplesmente fui observando, reuni um conjunto de ideias e experiências que enquanto cidadão interessado e apaixonado pelo setor quero partilhar.
O artigo assentará em 3 eixos:
1.      Contexto atual do setor agrícola;
2.      Investimento e incentivos realizados no setor;
3.     Perspetivas futuras do (re)investimento realizado no presente.

1.º Eixo – Contexto atual do setor agrícola


O
contexto empresarial que se vive atualmente, e num futuro próximo, caracteriza-se por um elevado grau de incerteza. É necessário (re)criar modelos económicos de criação de riqueza e rever, quiçá reconstruir a forma como os agentes económicos (empresas, estado, setor financeiro e outros) se articulam e criam sinergias. Reflexo da incerteza vivida e da desconfiança gerada (outro dos grandes problemas) o nível de investimento é extremamente baixo, isto apesar das baixas históricas taxas de juro indexantes. Bem me podem falar nos spreads praticados pelo setor financeiro. Responderei com o argumento atrás apresentado, Desconfiança! A união europeia e os seus estados membros, verdade seja dita, têm feito algum esforço no sentido de se criarem medidas de apoio ao empreendedorismo e à criação de oportunidades neste setor, mas isso só não chega. Não vou discutir as medidas da PAC e a sua muito discutível justiça de repartição. As notícias que vamos vendo e ouvindo indicam um claro aumento de distribuição de incentivos ao investimento no setor. Da experiência que tive, posso acrescentar que o nível de qualificações dos potenciais empresários ou já empresários agrícolas é bastante elevado (quadros nível V e VI). Estamos perante um janela de oportunidade única. Porquê? Porque este tipo de pessoas e possíveis empreendedores, prefiro chamar assim, possuem conhecimento e capacidade de aprendizagem, argumentos fundamentais para vencer e ultrapassar os desafios. Torna-se fundamental investir e modernizar um setor com níveis de investimento públicos e privados elevados e com níveis de qualificação também eles elevados. Falando-se de um setor tradicionalmente pouco ou nada qualificado, que durante anos foi completamente abandonado (não só o setor mas também as regiões, veja-se o caso das regiões
interiores), então a oportunidade é ainda maior. Calma não é só a oportunidade mas também o desafio. Surge neste contexto uma questão chave.

Agricultura no presente e principalmente que futuro?

Na procura de respostas para esta questão surge o 2.º eixo.

2.º Eixo – Incentivos e/vs Investimentos

Os dados atuais apontam para mais de 280 projetos a serem submetidos diariamente, numa procura incessante aos incentivos do ProDer. Os níveis de execução dos mesmos correm, supostamente, ao mesmo ritmo. Poder-se-ia inferir daqui que agora é esperar, pois tudo parece correr bem.
Uma das primeiras questões que coloco quando converso com potenciais empresários (principalmente estes) é o porquê de quererem investir no setor agrícola. A resposta gira sempre à volta do mesmo. Geração nova, com elevadas qualificações e poucas oportunidades no mercado de trabalho de formação académica, com recursos disponíveis (terra de familiares) procuram “refazer” a vida aproveitando oportunidades. Alguns aparecem dizendo-se cansados da vida profissional que levam e querendo dar novo rumo. Desta forma procuram juntar o útil ao agradável com retorno ao campo. A estes dois motivos junta-se um outro, este de maior relevância: Incentivos à instalação de jovens agricultores e de novos projetos. Assim sendo o risco é muito baixo ou nulo. Perspetiva errada? Diria que existe um enorme custo de oportunidade. Mais vale um par de bons projetos que criem riqueza, emprego e produtos com valor acrescentado que muitos projetos de qualidade duvidosa. Quantidade não é necessariamente qualidade. Daqui surgem duas outras questões:
  •                    Que risco assumem ou estão dispostos a assumir os potenciais empresários? (Não lhes chamo empreendedores, porque não se enquadram na definição de empreendedor. Porquê? Pela capacidade de assumirem riscos próprios).
  •                  Que empresas agrícolas teremos a médio prazo quando os projetos financiados estiverem em velocidade de cruzeiro? (Pergunta para um milhão de euros).

Chamo à atenção de que o setor agrícola tem características que lhe conferem especificidades únicas. É um setor duro, sem horários de trabalho certos, com variáveis que o empresário tem dificuldade em controlar (pragas, intempéries, volatilidade de preços de matérias primas e produtos, etc). Surge também a questão de se pensar a agricultura como uma empresa. Colocar a empresa e não o empresário no centro das atenções. Aqui residem algumas dificuldades a serem bem estudadas para bem de todos. O empresário é apenas uma parte da empresa e não a empresa. O setor agrícola em Portugal caracteriza-se por ser pouco estruturado empresarialmente, com média de idades avançada e com  poucas qualificações. É preciso olhar o setor de forma diferente.
Olhar o setor agrícola de forma empresarial, implica definir estratégias, perceber em que ponto se situam na cadeia de valor (Ver cadeia de valor de Porter, M). Que estratégia de produção, comercial, etc. Que modelo de gestão adotar, que estrutura de empresa adotar ais rígida ou dinâmica. É importante que os potenciais empresários e empreendedores não se esqueçam disto. Não basta “comprar” numa qualquer consultora um projeto agrícola. É preciso colocá-lo em marcha, implementar e executar o programa. É fundamental errar, sim errar e principalmente aprender rápido, porque a colheita é já a seguir. É preciso reinvestir todos os dias, tempo e dinheiro. Dizia-me um já empresário no acerca do negócio agrícola: “…Isto afinal é mais duro que aquilo que eu pensava. Agora, depois da formação, é que deveria iniciar o projeto, pois existem erros de palmatória  no meu projeto…”. Atenção não basta investir. É preciso muito mais que isso. A batata, o vinho, o tomate, a carne de suíno, o leite não aparecem do nada.
Analise-se alguns dados curiosos. Cruze-se o nível de investimento no setor agrícola com o nível de exportação dos produtos agrícolas. Entende-se a timidez dos números. Obviamente que os investimentos realizados trarão resultados não no imediato mas no médio prazo. Sinceramente acredito e tenho expetativa dos resultados serem muito positivos.

3.º - Perspetivas futuras do (re)investimento realizado no presente

O 3.º eixo apresenta uma perspetiva sobre o reinvestimento realizado no presente. É expectável que os projetos apoiados e criados no contexto atual, sejam fatores diferenciadores e criadores de riqueza num futuro tão próximo quanto possível. A riqueza criada advém, obviamente, das vendas dos produtos e não dos incentivos. Devem estes ter um carácter temporário e induzir o particular a realizar investimentos que de outra forma estes não estariam dispostos a realizar e/ou colmatar falhas de mercado existentes. O caminho é por aí. Daí a importância de se definirem adequadas estratégias. Não basta produzir bom vinho, é preciso vendê-lo bem e de forma sustentada. Um fator é crítico deve então merecer toda a atenção: where the action is. Na minha opinião este é, ainda, um ponto fraco do setor. A falta de estratégias comerciais adequadas e arrojadas. É preciso diferenciar-se, mudar de mercados, acrescentar valor ao produto. A batata pode ser igual mas o método de produção, a calibragem, o embalamento o canal de distribuição, o relacionamento com o cliente e o mercado pode ser diferente. Obviamente que para trabalhar mercados externos é fundamental ganhar escala, aqui uma palavra se assume como chave: Parcerias.
Sem o retorno adequado dos investimentos realizados no presente o setor dificilmente conseguirá sobreviver no futuro. Uma outra questão de extrema importância se coloca: Quem vai no futuro financiar o setor? Melhor estará o setor financeiro disposto a financiar com condições competitivas um setor de risco de difícil controlo? Tudo funcionará bem se agora for o erário público a incentivar, mas pressupõem-se que no futuro, em modo velocidade de cruzeiro, seja necessário reinvestir no sector.
1.      A quem caberá esse papel?
2.      E de que forma se irá processar?
Deixo estas duas últimas questões para vossa análise. As vossas opiniões serão bem vindas.

Até breve, bons negócios!  

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Reestruturação de empresas – A espiral de endividamento 

É bom que as pessoas de uma nação não entendam o sistema bancário e monetário, caso contrário, acredito que uma revolução aconteceria amanhã mesmo – Henry Ford

Key word´s – Mudança, Financiamento, Liquidez, Endividamento, Reestruturação, Rácios

Caros amigos (as) empresários (as),

O artigo sobre o qual me vou debruçar é um dos maiores, senão o maior problema, das empresas (e não só) na actualidade,  o financiamento da actividade operacional.

O
contexto empresarial que vivemos tem como característica recente mais visível a mudança. A última década e em especial os últimos 5 anos foram de grande alteração em diversos sentidos.
Alterou-se o tecido empresarial, o espaço de actuação das empresas, os players, os mercados, as redes de negócio, as politicas fiscais, as politicas económicas, as condições de acesso ao financiamento e muitos outros aspectos. Dizer, de todos, qual o mais relevante e qual aquele que mais contribuiu ou acelerou a mudança é  um exercício de  pura especulação, pois todos eles se interligam e é extremamente difícil perceber qual precedeu qual. Uma coisa sabemos, o contexto mudou radicalmente. O aparecimento de novos mercados e economias emergentes aguçou o apetite de muitas empresas e levou tantas outras ao desespero e até ao desaparecimento, normal é a lei da vida em que só os mais capazes sobrevivem, melhor diria os mais apetrechados e que antecipadamente se muniram de forças suficientes. Para o tema em discussão centremo-nos noutras questões. Durante muito tempo as empresas viveram, permitam-me a dureza, na ilusão de que as empresas se financiavam com o crédito que “facilmente” lhes era concedido. Certo ou errado? O mais importante é que as empresas se centrem no futuro e, pelo menos aprendam com os erros do passado. Pela experiência que fui adquirindo e pelos casos que fui analisando existe claramente um conjunto de problemas das decisões empresariais tomadas na última década e que hoje representam um grande problema e um grande desafio para as empresas. 
Qualquer empresa é certo e sabido que necessita de crédito. Esse crédito serve para financiar quer os seus investimentos que a sua actividade operacional (funcionamento da empresa no dia a dia). Comecemos pela definição de crédito: Crédito provém do latim creditum, que significa…confiança, ou segurança em alguma coisa, é uma promessa de pagamento futuro. Interessante não?! Santos (2003, p. 15), defini-o como “a modalidade de financiamento destinada a possibilitar a realização de transações comerciais entre empresas e a sua envolvente. Até aqui nada de novo. Acrescentaria algo fundamental a esta definição. O retorno. Porquê? Pelo simples facto de ser este retorno a permitir que o crédito concedido seja pago. O principio base dos economistas é provavelmente das maiores verdades que o universo conhece, não há almoços grátis. 
Se nos focarmos no mercado português e olharmos a última década vamos perceber algumas questões que inúmeras vezes parecem de difícil resposta. Ao analisar a evolução dos crédito concedido às empresas nos últimos 10 anos percebemos claramente a dependência das empresas face ao crédito.
A análise não permite inferir sobre o tipo de crédito concedido (ao investimento ou ao financiamento), no entanto é no crédito ao funcionamento que nos iremos centrar. Seria de todo interessante cruzar este gráfico com a evolução da produção e das vendas e da riqueza criada, embora não seja preciso ser mágico nem iluminado para perceber o resultado final. Basta olhar para a evolução do crédito raciocinar um pouco e concluiremos que pós 2008 a diminuição do crédito teve impacto directo na criação de riqueza e vice versa. É sabido que qualquer investidor, banca ou outro agente em situações de desconfiança se retrai, atente-se à definição de crédito.
Analisando as Demonstrações Financeiras de empresas, para melhor perceber a sua evolução (aconselha-se a leitura do balanço. É a DF que melhor relata esse facto, pois dá em cada momento a posição financeira da empresa), vê-se de forma objectiva uma linha paralela à do crédito concedido pela banca. Quer isto dizer que a dependência das empresas face ao crédito foi durante muito tempo, tempo demais, muito elevada. Quando separado o crédito de curto prazo (Passivos correntes) e o crédito de Médio e Longo Prazo (Passivo não Corrente), percebemos também uma clara tendência para o crédito de curto prazo. Ai reside um dos grandes problemas. Seria de todo interessante analisar também a evolução dos capitais próprios (residual de interesse dos sócios e ou acionistas) no mesmo período. Que acham que aconteceu?
O crédito de curto prazo, ou crédito ao funcionamento tem algumas especificidades que devem ser bem entendidas e analisadas e que, fruto de diversas situações, não o foram durante muito tempo.  Viveu-se na ilusão durante tempo demais que o crescimento e a criação de riqueza se baseava na concessão de crédito. Isto até poderia ser verdade, no caso do crédito bem investido e que gerou retorno, o que de todo não foi o que aconteceu. Por regra o financiamento das empresas assenta em dois pilares base:

 1 – Capacidade das empresas gerarem Cash Flow´s (Influxos e exfluxos de dinheiro);

 2 – Risco associado à empresa e ao negócio ( envolvente interna e externa da empresa);

Durante muito tempo assobiou-se para o lado e partiu-se do pressuposto que o risco era….nulo ou melhor mínimo. Ainda por cima quando tínhamos estados e governos a dar autênticos avais à banca para concederam crédito. Aliado a esta questão tinha-se a entrada de milhões de euros vindos da EU. Esquecemo-nos apenas de uma coisa, simples por acaso. Levantar a cabeça, raciocinar um pouco e olhar para o futuro. Bem sei que é fácil a minha posição, a escrever o artigo leia-se, mas era de todo previsível um desfecho pelo menos próximo deste. Porquê? A dada altura as empresas deixaram de gerar cash flow´s capazes de fazer face ao crédito concedido. Acresce a diminuição da procura e por conseguinte a quebra das vendas. Soma-se ainda o facto de até à muito pouco tempo Portugal ser um país claramente de produção e consumo interno, adiciona-se a tudo isto o tempo de reação as empresas, extremamente baixo. O peso do crédito ao funcionamento tornou-se insustentável. Contas correntes caucionadas no máximo (como é possível empresas a gerar cash flow´s mensais de 200.000€ e ter CCC negociadas no valor de 600.000€ (ver natureza deste tipo de financiamento). Não tem nada a ver com ciclos de produção ou financiamento do ciclo de exploração, foi mesmo crédito mal concedido). Os descobertos bancários, as letras (que grande problema), etc. Não se esqueçam acresce que a estes montantes temos o crédito concedido por fornecedores (Ex: 100.000€). Temos de crédito concedido 700.000€ (600.000€ banca + 100.000€ de fornecedores), capacidade de gerar fluxos mensais 200.000€ O resto do calculo fica por vossa conta. Olhemos agora a outra parte do balanço, ou seja onde está o crédito concedido. Como o acesso ao crédito estava facilitado e até era barato, tudo ou quase tudo era permitido. Da mesma forma se concedia crédito a clientes e se “dotava” a empresa de grandes quantidades de stock´s. Ora isto equilibrava a balança, supostamente a capacidade de honrar os compromissos estava assegurada. De quando em vez como forma de garantia ou de antecipar fundos de tesouraria sacava-se umas letras e descontava-se (a responsabilidade em 99% dos casos está do lado do sacador), mais um problema. Se todos honrassem os seus compromissos tudo correria bem e assim estaria assegurado o fundo de maneio necessário e o equilíbrio financeiro da empresa a custos bastante interessantes. Mais que crédito barato interessa o crédito necessário à estrutura da empresa. Se não funcionar então deve haver uma análise cuidada pois algo está mal se a empresa apenas sobrevive com crédito e financiamento externo e não consegue ela própria gerar fluxos suficientes.
O problema é que a máquina deixou de funcionar como um relógio suíço. Consequência? As empresas muito rapidamente deixaram de poder honrar os seus compromissos, fruto da retração do mercado e da quebra de vendas interna. Não estavam preparadas para trabalhar e conquistar mercados externos e tinham agora um problema maior. Empresa completamente endividada e com os credores abater à porta a exigir os seus créditos----no curto prazo tal como estava negociado. Consequência imediata, aumento desproporcional do preço do financiamento, logo aumento dos custos financeiros. Clientes começam a não honrar compromissos, empresas diminuem drasticamente a capacidade de gerar fluxos e têm necessidade de reconhecer imparidades pelas dívidas e pelo crédito concedido a clientes. Letras aceites e descontadas não são pagas, empresa sacadora “obrigada” a assumir responsabilidades, empresas sem capacidade para aceder a crédito (como dizia um empresário, estou a morrer à sede com água pelos joelhos, referindo-se às encomendas que tinha em carteira e à falta de crédito para comprar matérias primas). Conclusão uma enorme bola de neve e rapidamente temos empresas completamente descapitalizadas. Solução?! Tudo menos ficar parado, mas foi isso que em muitos casos aconteceu. Deveria “obrigatoriamente” ter sido feita uma reestruturação do tecido empresarial e dos seus agentes onde intervêm 3 eixos: Empresas, Banca, e Estado. Nada disto foi feito e a pressão sobre as empresas e sobre a sua tesouraria foi-se agravando. Solução encontrada, dentro do possível, espiral de crédito. Ou seja recorrer a crédito para honrar outros compromissos assumidos, mas meus amigos esqueceram-se de algo. As empresas continuavam a não gerar cash flow´s capazes de fazer face ao nível de crédito assumido e, em muitos casos isso ainda agravou a situação. Bem se sabe que no limite o risco é….zero mas…
Chegados a 2013 temos empresas completamente presas a crédito ao funcionamento. É fundamental que os 3 eixos principais (empresas, banca e estado) se articulem. É imperial a reestruturação das empresas e no fim todos sairão a ganhar. E principalmente que a lição não se repita. Inúmeras vezes tenho divergências de opinião com empresários pois sou muito cauteloso em relação ao crédito ao funcionamento das empresas. Tal só faz sentido quando bem estudado, enquadrado e bem, muito bem equilibrado. A questão que muitas vezes ouço é: Marco esta é a solução, é preciso crédito para andarmos para a frente. Não partilho desta opinião. Temos empresas com interessantes margens de exploração que acabam por ser “comidas” pelos custos financeiros. Prefiro dar essa margem aos clientes em troca de um bom PMR. Difícil sim muito, impossível? Não.
Com esta margem tenho logo dois efeitos positivos: Cash flow´s mais elevados e créditos a cliente menores e por conseguinte rotactividade de activos, sim porque vender sem receber até pode ter dar boa rotactividade, mas dará fracos cash flow´s.   
É urgentíssimo a reestruturação das empresas de baixo porte.
Existem um conjunto de indicadores financeiros chave para analisarem e perceberem no curto prazo e de forma simples a vossa empresa. 

·         PMR – Indica em dias, meses ou anos o tempo médio que os clientes levam a pagar as suas dívidas;

·   PMP – Indica em dias, meses ou anos o tempo médio que a empresa leva a pagar as suas dívidas a fornecedores (importante destrinçar o tipo de fornecedores capital ou matérias);

·       Liquidez Geral. Reduzida e Imediata;

·      NFM – Necessidade da empresa num período de tempo definido. Deve ter em conta o ciclo de produção e/ou de exploração. Fundamental para o equilíbrio financeiro da empresa;

·       Autonomia Financeira – Capital Próprio/Activo - > Activos financiados pelo capital próprio;

Solvabilidade – Capital Próprio/Passivos Total - > Capacidade de a empresa honrar os seus compromissos 

Nota: Atente-se às correções necessárias para calculo dos indicadores apresentados.

Conclusão:

De forma simples e se a empresa tem peso relevante sobre a tesouraria no curto prazo e antes de qualquer negociação necessária com a banca é fundamental que:
1.      Análise completa e verdadeira sobre a estrutura financeira da empresa no curto, no médio e no longo prazo.

1.1.   Compromissos a honrar no curto prazo
1.2.   Compromissos a honrar no médio e longo prazo
1.3.   Estrutura de cash flow´s previsional (tem em conta vendas, gastos e os  PMR e PMP). É extremamente difícil no contexto actual mexer nos PMR´s. O dilema é muitas vezes vender e correr o risco de incumprimento ou não vender e ter a empresa…parada.


 


Elaboração de um plano financeiro e de um orçamento financeiro

1.4.   Elaborar um plano de reestruturação e apresenta-lo junto da banca. Fundamental saber e prever bem os cash flow´s da empresa para saber que compromissos pode honrar.
1.5.   Rigor, disciplina

Atenção – Crédito sim, mas não de qualquer forma e a qualquer preço.

Lembre-se - > O equilíbrio financeiro da empresa depende das decisões de hoje.

Bons negócios!